O transporte aéreo a duas velocidades
Os últimos dados que acabaram de ser divulgados hoje (22 de Abril) pela entidade aeroportuária europeia ACI Europe, mostram uma crise cada vez mais profunda no sector, com o tráfego aéreo numa espiral descendente contínua.
O tráfego de passageiros no primeiro trimestre caiu -81,7% em toda a rede aeroportuária europeia, em comparação com o mesmo período pré-pandémico (primeiro trimestre de 2019). Os dados de 2021 mostram uma nova diminuição em relação ao trimestre anterior (4º trimestre de 2020, -79,2%), resultando na perda de 395,5 milhões de passageiros.
Uma análise mais atenta revela-nos que a Europa se tornou num mercado da aviação comercial a duas velocidades - com os aeroportos da UE/EEE(Área Económica Europeia)/Suíça ainda a afundarem-se na crise causada pela COVID-19. Por outro lado, outros aeroportos europeus, liderados pelos da Rússia e da Turquia, estão a mostrar resultados mais aceitáveis. Os aeroportos da UE/EEA/Suíça e do Reino Unido viram o tráfego de passageiros diminuir de -85% em Janeiro para -89% em Março - com o seu desempenho no primeiro trimestre a situar-se em -88%, reflectindo a terceira vaga de infecções COVID-19 registadas nos diversos países europeus, onde foram impostas severas restrições e proibições às viagens, bem como generalizados bloqueios às deslocações domésticas. Os aeroportos britânicos foram especialmente afectados, juntamente com os dos países que dependem exclusivamente do tráfego internacional - muitos deles iniciaram este período com um valor que rondava os 5% dos níveis normais de tráfego de passageiros registados antes da pandemia.
Em contrapartida, o tráfego de passageiros nos aeroportos da Turquia, Rússia e outros mercados, melhorou acentuadamente de -59% em Janeiro para -49% em Março, com o primeiro trimestre a fechar com -54,8%. Isto deve-se em grande parte aos aeroportos da Rússia e, em menor escala, à Turquia e Ucrânia, reflectindo a existência de mercados internos de maiores dimensões em combinação com bloqueios e restrições menos severas às viagem.
As classificações dos aeroportos destacam uma mudança na dinâmica das viagens e do movimento de passageiros. Consequentemente, os 5 principais aeroportos europeus do primeiro trimestre situaram-se todos na Rússia e na Turquia - com o aeroporto de Istambul (-64%) a posicionar-se como o aeroporto europeu mais movimentado, seguido de Moscovo-Domodedovo (-18%), Moscovo-Sheremetyevo (-60%), Istambul-Sabiha Gokcen (-48%) e Moscovo-Vnukovo (-26%). Enquanto Paris-CDG (-82%), Madrid (-81%), Frankfurt (-83%) e Amsterdão-Schiphol (-87%) que ainda conseguiram chegar ao top 10 dos mais movimentados do trimestre. Londres-Heathrow (-91%) com a percentagem de quebra registada não conseguiu entrar no grupo dos 10 principais aeroportos do trimestre. De destacar neste período o aeroporto de Sochi (+47%), que acolheu mais passageiros do que o de Londres-Heathrow, uma vez que os russos afluíram a esta cidade que constitui um dos destinos de férias mais procurados do Mar Negro - tornando-se assim o único aeroporto na Europa a registar um aumento no tráfego de passageiros no primeiro trimestre.
Os dados preliminares de Abril, numa primeira análise, não mostram melhorias significativa, apesar das férias da Páscoa terem ocorrido no início deste mês. Nos primeiros 10 dias de Abril, o tráfego de passageiros nos aeroportos europeus diminuiu -80%, com os aeroportos da UE/EEA/Suíça e do Reino Unido com -87% e outros com -48,7%.
O estado do tráfego de passageiros nos aeroportos também reflecte o colapso contínuo da impossibilidade de se efectuarem conexões aéreas, com quase 2000 rotas aéreas adicionais perdidas desde o início do ano – passando de 6,663 em Janeiro para 8,539 em Abril.
A ACI Europa reviu as suas previsões para 2021 em baixa, quer para o tráfego, quer para os resultados financeiros.
Com base no balanço do desempenho real do tráfego de passageiros durante o primeiro trimestre e das perspectivas de recuperação das viagens internacionais, a ACI Europa estima que:
- O tráfego de passageiros nos aeroportos europeus deverá agora diminuir -64% em 2021, em comparação com uma previsão de -52% em Janeiro;
- A recuperação total dos volumes de passageiros de 2019 seja transferida para 2024 e 2025;
- A última previsão financeira da ACI Europe, também publicada hoje, ilustra a extensão da crise económica que o sector enfrenta actualmente. Com as receitas a diminuir 30 mil milhões de euros durante 2020, prevendo-se que os aeroportos europeus ainda vão perder mais 29 mil milhões de euros em receitas em 2021. Uma lenta recuperação do tráfego, combinada com muito maior pressão competitiva entre aeroportos limitará fortemente as receitas - deixando os custos crescentes associados ao reinício para a maioria dos aeroportos por recuperar em 2021.
22 Abril 2021